Jornal, online, Angico dos Dias Edição de Nº 1853, (publicações no blog). Campo Alegre de Lourdes/BA, Brasil. Segunda - feira. 05. 11. 2018.WhatSapp e Grupo do WhatSapp: 74 99907 9863.
Sob ameaças e perseguição do fascismo os movimentos sócias procuram
se reorganizarem, para enfrentar o governo da direita radical fascista, do réu, deputado, Jair Bolsonaro, eleito
presidente da República.
João Pedro Stedile:
"Nós
temos que retomar o trabalho de base".
Liderança do MST fala
sobre quais são os próximos passos da esquerda, após vitória de Jair Bolsonaro.
"Saímos desse
processo aglutinados, com capacidade e força organizada, para resistir à
pretensa ofensiva fascista".
A afirmação é de João Pedro Stedile, da
coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais, Sem Terra, (MST), sobre
o resultado das eleições presidenciais.
Em entrevista à Rádio
Brasil, de Fato, logo após a vitória de Jair Bolsonaro, (PSL), Stedile ressaltou
que apesar da derrota eleitoral, a vitória política é do campo progressista,
que criou uma forte unidade nas últimas semanas.
Opinião de João Pedro Stedil:
o governo
Bolsonaro, com início em 1º de janeiro de 2018, deverá se assemelhar ao governo
Pinochet, no Chile, devido a sua natureza fascista.
Pinochet. ex-presidente
Chileno.
|
"É um governo que vai
usar todo o tempo a repressão, as ameaças, o amedrontamento. Vai liberar as
forças reacionárias que estão presentes na sociedade. Por outro lado, ele vai
tentar dar liberdade total ao capital em um programa neoliberal. Porém, essa
fórmula é inviável, não dá coesão social e não resolve os problemas fundamentais
da população", diz Stedile.
Este cranio é de uma das vítimas do ex-presidente chileno Pinochet. |
Bolsonaro. eleito presidente do Brasil. |
Confira a íntegra da
entrevista.
O que dizer para as mais
de 46 milhões de pessoas que votaram no candidato Fernando Haddad, apoiado pelo
MST?
Ainda estamos no calor dos
resultados e precisamos, acima de tudo, ter muita serenidade e entender o
contexto da luta de classe e não nos considerarmos derrotados por esse
resultado. Ainda que as urnas tenham dado legitimidade ao Bolsonaro, não
significa que ele teve a maioria do apoio da população. Há um alto índice de
abstenção, 31 milhões. O Haddad teve 45 milhões. Só ai são 76 milhões de
brasileiros que não votaram no Bolsonaro.
Portanto, a sociedade
brasileira está dividida. Mesmo o resultado eleitoral, do que eu pude
acompanhar já nas pesquisas anteriores, ficou claro que quem está apoiando o
projeto do Haddad é quem ganha menos, de dois a cinco salários mínimos. Quem
tem até o ensino fundamental, e claramente, os mais ricos e abastados, votam no
Bolsonaro.
Mas também houve uma
divisão eleitoral clara, geograficamente. Quando olhamos para o mapa do Brasil
com os governadores eleitos, temos 12 candidatos progressistas do campo popular
que vai desde o Pará até o governador Renato Casagrande (PSB) no Espírito
Santo. O Nordeste e aquela parte da Amazônia são um polo de resistência
geográfico que demonstram claramente que aquela população não quer seguir os
rumos do projeto fascista de Bolsonaro.
Por último, como um breve
balanço, como todos estão comentando, além do que o resultado eleitoral, a
última semana consagrou uma vitória política da esquerda e dos movimentos
populares. Tivemos inúmeras manifestações de todas as forças organizadas.
Sindicatos, intelectuais, estudantes, universidades.
Nunca antes na história do
Brasil tínhamos colocado mais de 500 mil mulheres em todo o Brasil, em 360
cidades, que foram as ruas para dizer "Ele não", "Fascismo
não", de maneira que eu acho que o balanço não é de uma derrota política,
nós sofremos uma derrota eleitoral, mas saímos desse processo aglutinados, com
capacidade e força organizada para resistir com a pretensa ofensiva
fascista.
Apesar dos bravateios de
Bolsonaro, sabemos que no campo institucionais, há limitações. Ele já disse que
tem a intenção de tipificar o MST e o MTST como organizações terroristas.
Enxerga a possibilidade real e institucional que isso realmente aconteça?
Eu acho que o governo
Bolsonaro vai se assemelhar, se fizermos um paralelo, com que foi o governo
Pinochet no Chile. Não pela forma que chegou, mas pela sua natureza fascista. É
um governo que vai usar todo o tempo a repressão, as ameaças, o amedrontamento.
Vai liberar as forças reacionárias que estão presentes na sociedade. Por outro
lado, ele vai tentar dar liberdade total ao capital em um programa neoliberal.
Porém, essa fórmula é inviável, não dá coesão social e não resolve os problemas
fundamentais da população.
O Brasil vive uma grave
crise econômica que é a raiz de todo esse processo, desde 2012 o país não
cresce. Portanto, ao não crescer, ao não produzir novas riquezas, os problemas
sociais, econômicos e ambientais só vão aumentando.
Ele com seu programa
ultraliberal, de apenas defender os interesses do capital, pode até ajudar os
bancos, fazer com os bancos continuem tendo lucro, pode ajudar as empresas
transnacionais para que tomem de assalto o resto do que nós temos aqui, porém,
ao não resolver os problemas concretos da população de emprego, de renda, de
direitos.
trabalhistas, de
previdência, de terra, de moradia, isso vai aumentando as contradições.
Isso irá gerar um caos
social que permitirá aos movimentos populares retomar a ofensiva, as
mobilizações de massa. E, no fundo, além do que está na Constituição, coisa que
ele não vai respeitar muito, o que vai nos proteger, não é corrermos para
debaixo da tenda. O que vai nos proteger é a capacidade de aglutinar o povo,
seguir fazendo lutas de massas na defesa dos direitos, na melhoria das
condições de vida e essas mobilizações populares é que serão a proteção aos
militantes, aos dirigentes. Não nos assustemos. As contradições que eles vão
enfrentar serão muito maiores do que as possibilidades deles reprimirem
impunemente.
Há uma outra luta, que tem
relação com as eleições, que desde que começou a campanha eleitoral ficou em
segundo plano: a prisão ilegal e injusta do ex-presidente Lula. Qual é a
perspectiva dos movimentos populares pra essa outra frente de batalha?
Como todos nós
acompanhamos ao longo desse período, o presidente Lula foi sequestrado pelo
capital por meio de um Poder Judiciário completamente servil a esses
interesses. Ele foi preso ilegalmente. Há muitos outros, não só políticos como
cidadãos, que estão respondendo em liberdade, até que se cumpra a Constituição,
que só permite a prisão depois que o processo passa por todas as instâncias.
No caso do Lula, ainda
falta ser julgado no STJ e depois no STF. Depois não deixaram ele concorrer
quando o registro da candidatura foi feito. Outros 1400 candidatos concorreram
na mesmas condições do Lula mas a ele foi proibido, e finalmente, o proibiram
de falar, quando qualquer bandido de quinta categoria pode dar entrevista na
Globo. Ficou famoso aquele caso do ex-goleiro do Flamengo que todo dia estava
na Globo só para dar audiência. E ao Lula foi proibido se comunicar com o povo.
Na verdade, eles sabiam que o Lula é a principal liderança popular que
aglutinaria amplas forças do povo brasileiro, que levaria pro debate a
discussão de projeto. É evidente que parte dos eleitores do Lula, que acreditam
no Lula, são trabalhadores enganados por uma campanha de mentiras, que acabaram
votando no Bolsonaro.
Para a esquerda e
movimentos populares, temos um desafio enorme daqui pra frente de organizar
comitês populares em todo Brasil, organizar um verdadeiro movimento de massas,
e organizar uma verdadeira campanha internacional por sua libertação e pela
designação do Prêmio Nobel da Paz no ano que vem, como é a campanha encabeçada
pelo [vencedor do] Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel.
Vamos ter uma tarefa
enorme de organizar esses comitês e transformar a luta pela campanha com uma
bandeira popular. Evidentemente haverá outros desafios que nós, da esquerda e
movimentos populares teremos que nos debruçar no próximo período para nos
aglutinarmos como vem sendo já sugerido que temos que transformar a Frente
Brasil Popular, a Frente Povo Sem Medo, quem sabe nos juntarmos todos, em uma
Frente Popular pela Democracia e Antifascista.
Poderia ser um instrumento
mais amplo ainda do que a própria Frente Brasil Popular. Temos muita luta pela
frente. A luta de classes é assim. É muito parecida com um jogo de futebol em
um longo campeonato. Tem domingo que se perde uma partida, tem outro em que se
ganha. Mas o fundamental é ir acumulando força e organizando nosso povo. É isso
que muda correlação de forças.
Como a esquerda sai dessa
batalha? Os partidos, movimentos, o próprio Fernando Haddad?
Eu me envolvi
pessoalmente, o nosso movimento e a Frente Brasil Popular, e se notou
claramente, nas últimas duas semanas, um novo alento, uma nova interpretação
para o que está acontecendo no Brasil. Muita gente se mobilizou independente de
partidos e movimentos, ou seja, há energias na sociedade e conseguiremos
resistir ao fascismo.
Agora, não podemos cair no
reducionismo da vida partidária e ficar nas especulações do que acontecerá com
fulano ou beltrano. As pessoas pouco importam nesse processo. A luta de
classes, é de classes, e portanto, é a dinâmica da luta de classes que altera a
correlação de forças, que vai resolver os problemas do povo. No meio dessas
lutas de classe, vão surgindo novos líderes e novas referências. Não podemos
nos apegar a essas leituras.
"O Haddad já se
cacifa para 2022", "O Ciro se cacifa". O Ciro Gomes saiu muito
bem no primeiro turno, com moral, e depois jogou essa moral na lata do lixo ao
se abster da disputa política do segundo turno. A vida útil do Ciro durou três
semanas. É assim a lógica da luta de classes.
Acho que a esquerda e os
movimentos populares que tem causas bem específicas, de mulheres, moradia,
terra e movimento sindical, temos que nos debruçar com serenidade, fazer as
avaliações críticas e autocríticas e retomar a nossa agenda história da classe
trabalhadora, para enfrentar os desafios da vida e da história.
Ficou claro durante essa
campanha: nós temos que retomar o trabalho de base, que até o Mano Brown puxou a orelha e ele estava
correto. Se nós tivéssemos tido a paciência de, ao longo desses seis meses, ter
ido de casa em casa, nos bairros da periferia, onde vive o povo pobre, acredito
que teríamos outro resultado eleitoral. O povo entende, mas ninguém vai lá
falar com ele.
Temos que ter claro que o
que altera a correlação de forças, não é discurso, não é mensagem no Whatsapp.
O que altera a correlação de forças e resolve os problemas concretos da
população é se nós organizarmos a classe trabalhadora e a população para fazer
lutas de massa e resolver seus problemas.
Se falta trabalho, temos
que fazer a luta contra o desemprego. Se o gás está muito alto, temos que fazer
a luta para abaixar o preço do gás. Isso exige luta de massa. Da mesma forma, a
esquerda abandonou a formação política. As pessoas foram iludidas pelas
mentiras da campanha do Bolsonaro no Whatsapp, por que? Porque não tem
discernimento político para saber o que é mentira e o que fazia parte do jogo.
Isso só se resolve com formação política e ideológica, quando a pessoa tem
discernimento, conhecimento, para ela julgar por si mesmo e não esperar
orientação de ninguém.
Assim como temos que
potencializar ainda mais esse belo trabalho que vocês fazem no Brasil de Fato,
com rádio, jornal, tabloide, internet, que é potencializar nossos meios de
comunicação populares. De fato a televisou parou de pesar na formação de
opinião das pessoas. Então, temos que construir os nossos meios de comunicação.
Agora é o tempo ideal.
Finalmente, temos que
fazer um novo debate no país, sobre um novo projeto soberano para uma sociedade
igualitária e justa. Como essa campanha foi baseada na mentira e na luta contra
mentira, nós não discutimos programa, não discutimos um projeto estrutural pro
país. Agora temos que recuperar esse debate e nos próximos meses e anos,
reconstruir uma unidade popular entorno de um projeto. Um programa de soluções
para o povo, porque do outro lado, do governo, não virá.
Fonte: MST
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