JORNAL, ONLINE, ANGICO DOS DIAS NOTÍCIAS EDIÇÃO DE Nº 2088 (PUBLICAÇÕES NO BLOG). CAMPO ALEGRE DE LOURDES/BA, BRASIL. SÁBADO. 22 06, 2019 WHATSAPP E GRUPO DO WHATSAPP: 74 99907 9863
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ergio
Moro, enquanto julgava Lula, sugeriu à Lava Jato emitir uma nota oficial contra
a defesa. Eles acataram e pautaram imprensa.
Um trecho do chat privado entre
Sergio Moro e o então procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima
mostra que o ex-juiz pediu aos procuradores da Lava Jato uma nota à imprensa
para rebater o que chamou de "showzinho" da defesa de Lula após o
depoimento do ex-presidente no caso do triplex do Guarujá. O conteúdo faz parte
do arquivo As mensagens secretas da Lava Jato.
Os procuradores acataram a sugestão
do atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, em mais uma evidência de que
Moro atuava como uma espécie de coordenador informal da acusação no processo do
triplex. Em uma estratégia de defesa pública, Moro concedeu uma entrevista
nesta sexta-feira ao jornal o Estado de S. Paulo onde disse que considera
“absolutamente normal” que juiz e procuradores conversem. Agora, está evidente
que não se trata apenas de “contato pessoal” e “conversas”, como diz o
ministro, mas de direcionamento sobre como os procuradores deveriam se
comportar.
Os integrantes da vaza Jato. |
Juntamente com as extensas evidências
publicadas pelo Intercept no início desta semana – em que Moro e Deltan
conversam sobre a troca da ordem de fases da Lava Jato, novas operações,
conselhos estratégicos e pistas informais de investigação –, esta é mais uma
prova que contraria a tentativa de Moro de minimizar o tipo de relacionamento
íntimo que ele teve com os promotores.
Ao contrário da defesa de Moro de que
as comunicações eram banais e comuns – contendo apenas notícias e informações,
mas não ajudando os promotores a elaborar estratégias ("existia às vezes
situações de urgência, eventualmente você também está ali e faz um comentário
de alguma coisa que não tem nada a ver com o processo", disse ao Estadão)
–, essas conversas provam que Moro estava sugerindo estratégias para que os
procuradores realizassem sua campanha pública contra o próprio réu que ele
estava julgando.
O
showzinho da defesa.
O episódio ocorreu em 10 de maio de
2017, quando Moro já presidia um processo criminal contra o ex-presidente no
caso do "apartamentro triplex do Guarujá". Eram 22h04 quando o então
juiz federal pegou o celular, abriu o aplicativo Telegram e digitou uma
mensagem ao Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público
Federal em Curitiba.
"O que achou?", quis saber
Moro. O juiz se referia ao maior momento midiático da Lava Jato até então,
ocorrido naquele dia 10 de maio de 2017: o depoimento do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no processo em que ele era acusado – e pelo qual seria
preso – de receber como propina um apartamento triplex no Guarujá.
Disponibilizado em vídeo, o embate entre o juiz e o político era o assunto do
dia no país.
Seguiu-se
o seguinte diálogo:
Santos Lima – 22:10 – Achei que ficou muito bom.
Ele começou polarizando conosco, o que me deixou tranquilo. Ele cometeu muitas
pequenas contradições e deixou de responder muita coisa, o que não é bem
compreendido pela população. Você ter começado com o Triplex desmontou um pouco
ele.
Moro – 22:11 – A comunicação é complicada pois a
imprensa não é muito atenta a detalhes
Moro – 22:11 – E alguns
esperam algo conclusivo
Além do depoimento, outro vídeo com
Lula também tomava conta da internet e dos telejornais naquele mesmo dia.
Depois de sair do prédio da Justiça Federal, o ex-presidente se dirigiu à Praça
Santos Andrade, em Curitiba, e fez um pronunciamento diante de uma multidão.
Por 11 minutos, Lula atacou a Lava Jato, o Jornal Nacional e o então juiz
Sergio Moro; disse que estava sendo “massacrado” e encerrou com uma frase que
entraria para sua história judicial: “Eu estou vivo, e estou me preparando para
voltar a ser candidato a presidente desse país”. Era o lançamento informal de
sua candidatura às eleições de 2018.
Um minuto depois da última mensagem,
Moro mandou para o procurador Santos Lima:
Moro – 22:12 – Talvez vcs devessem amanhã editar
uma nota esclarecendo as contradições do depoimento com o resto das provas ou
com o depoimento anterior dele
Moro – 22:13 – Por que a Defesa já fez o
showzinho dela.
Santos Lima –
22:13 – Podemos fazer. Vou conversar com o pessoal.
Santos Lima –
22:16 – Não estarei aqui amanhã. Mas o mais importante foi frustrar a ideia de
que ele conseguiria transformar tudo em uma perseguição sua.
Moro, o juiz do caso, zombava do réu e de seus
advogados enquanto fornecia instruções privadas para a Lava Jato sobre como se
portar publicamente e controlar a narrativa na imprensa.
As afirmações do então magistrado
que o Intercept divulga agora contradizem também o que ele dissera horas antes
a Lula, naquele mesmo dia do julgamento, publicamente, ao iniciar o
interrogatório do petista: que o ex-presidente seria tratado com "todo o
respeito".
“Eu queria deixar claro que, em que
pesem alegações nesse sentido, da minha parte não tenho nenhuma desavença
pessoal contra o senhor ex-presidente. Certo? O que vai determinar o resultado
desse processo no final são as provas que vão ser colecionadas e a lei. Também
vamos deixar claro que quem faz a acusação nesse processo é o Ministério
Público, e não o juiz. Eu estou aqui para ouvi-lo e para proferir um julgamento
ao final do processo”, disse Moro.
“Pq resolveram falar agora? Pq era o
ex-presidente?”
Dez minutos depois da conversa com o
então juiz, naquele 10 de maio, Santos Lima abriu o grupo Análise de clipping,
em que também estavam assessores de imprensa do MPF do Paraná. Ele estaria em
Recife no dia seguinte em um congresso jurídico.
Santos Lima –
22:26:23 – Será que não dá para arranjar uma entrevista com alguém da Globo em
Recife amanhã sobre a audiência de hoje?
Assessor 1 – 22:28:19 –
Possível é, só não sei se vale a pena. E todos os jornalistas que estão aqui e
já pediram entrevista?
Assessor 2 – 22:28:32 – Mas dr., qual o motivo?
Assessor 2 – 22:29:13 – Qual a necessidade, na
realidade..
Santos Lima –
22:30:50 – Uma demanda apenas. Como está a repercussão da coletiva dos
advogados?
Assessor 2 – 22:30:58 – Rito normal do
processo...vcs nunca deram entrevista sobre audiência...vai servir pra defesa
bater...mais uma vez...
Oito minutos depois,
Santos Lima copiou a conversa que teve em seu chat privado com Moro – em que o
juiz sugere a nota pública para apontar as contradições de Lula – e colou em
outro chat privado, com o coordenador da Lava Jato no MPF, Deltan Dallagnol.
Eram 22h38.
Àquele horário, os
procuradores da força-tarefa discutiam num chat chamado Filhos de Januário 1 se
deveriam comentar publicamente o depoimento de Lula. Às 22h43, Santos Lima
escreveu no grupo, dirigindo-se a Dallagnol: "Leia o que eu te
mandei.". Ele se referia às mensagens que trocara com Moro. Três minutos
depois, Dallagnol responderia em quatro postagens consecutivas no grupo:
Deltan – 22:46:46 – Então temos que avaliar os
seguintes pontos: 1) trazer conforto para o juízo e assumir o protagonismo para
deixá-lo mais protegido e tirar ele um pouco do foco; 2) contrabalancear o show
da defesa.
Deltan – 22:47:19 – Esses seriam porquês para
avaliarmos, pq ng tem certeza.
Deltan – 22:47:50 – O "o quê" seria: apontar
as contradições do depoimento.
Deltan – 22:49:18 – E o formato, concordo, teria
que ser uma nota, para proteger e diminuir riscos. O JN vai explorar isso
amanhã ainda. Se for para fazer, teríamos que trabalhar intensamente nisso
durante o dia para soltar até lá por 16h
Foi a vez então de
Dallagnol mandar uma mensagem ao grupo Análise de clipping, dos assessores de
imprensa.
Deltan – 23:05:51 – Caros, mantenham avaliando a
repercussão de hora em hora, sempre que possível, em especial verificando se
está sendo positiva ou negativa e se a mídia está explorando as contradições e
evasivas. As razões para eventual manifestação são: a) contrabalancear as
manifestações da defesa. Vejo com normalidade fazer isso. Nos outros casos não
houve isso. b) tirar um pouco o foco do juiz que foi capa das revistas de modo
inadequado.
O assessor de imprensa
estranhou o pedido e alertou que poderia ser um "tiro no pé".
Assessor 2 – 23:15:30 – Quem bate vai seguir
batendo. Quem não bate vai perceber a mudanca de posicionamento e questionar. É
uma parte do processo. Na minha visão é emitir opinião sobre o caso sem ele ter
conclusão...e abrir brecha pra dizer que tão querendo influenciar juiz. Papel
deles vai ser levar pro campo político. Imprensa sabe disso. E já sabe que vcs
não falam de audiências geralmente. Mudar a postura vai levantar a bola pra
outros questionamentos. Pq resolveram falar agora? Pq era o ex-presidente? E
voltar o discurso de perseguição...é o que a defesa fez, faz...pq não tem como
rebater a acusação. Acusação utilizar da mesma estratégia pode ser um tiro no
pé.
O que os assessores não
sabiam é que não era o MPF que queria influenciar o juiz, mas o juiz que estava
influenciando o MPF. Três minutos antes de mandar essas mensagens ao grupo,
Dallagnol havia escrito a Moro. Além de elogiá-lo pela condução da audiência, o
procurador falou sobre a nota:
Deltan – 23:02:20 – Caro parabéns por ter mantido
controle da audiência de modo sereno e respeitoso. Estamos avaliando eventual
manifestação. A GN acabou de mostrar uma série de contradições e evasivas.
Vamos acompanhar.
Moro – 23:16:49 – Blz. Tb tenho minhas dúvidas
dá pertinência de manifestação, mas eh de se pensar pelas sulilezas envolvidas
O pedido de Moro para
apontar as contradições da defesa de Lula seria discutido no chat Filhos do
Januário 1 até o fim da noite e também na manhã do dia seguinte, 11 de maio. E,
finalmente, atendido.
Os procuradores, acatando
a sugestão de Moro, distribuíram uma nota à imprensa, repercutida por Folha de
S. Paulo, Estadão, Jovem Pan e todos os principais veículos e agências do país.
As notícias são centradas justamente na palavra desejada pelo juiz:
“contradições”.
Na nota, a força-tarefa
expõe o que considera serem três contradições do depoimento de Lula e refuta
diretamente uma alegação da defesa do petista, que os procuradores consideraram
mentirosa.
Naquela noite, Dallagnol
enviou uma mensagem a Moro para explicar por que não explorou a fundo as
contradições do petista:
Deltan – 22:16:26 – Informo ainda que avaliamos
desde ontem, ao longo de todo o dia, e entendemos, de modo unânime e com a
ascom, que a imprensa estava cobrindo bem contradições e que nos manifestarmos
sobre elas poderia ser pior. Passamos algumas relevantes para jornalistas.
Decidimos fazer nota só sobre informação falsa, informando que nos
manifestaremos sobre outras contradições nas alegações finais.
A resposta do ministro Moro
ao Intercept Brasil
Nós procuramos a
assessoria do ministro Sérgio Moro nesta sexta-feira e apresentamos com
antecedência todos os pontos mostrados nesta reportagem. Recebemos como
resposta a seguinte nota: "O Ministro da Justiça e Segurança Pública não
comentará supostas mensagens de autoridades públicas colhidas por meio de
invasão criminosa de hackers e que podem ter sido adulteradas e editadas,
especialmente sem análise prévia de autoridade independente que possa
certificar a sua integridade. No caso em questão, as supostas mensagens nem
sequer foram enviadas previamente."
Apesar de chamar as
conversas de “supostas”, Moro admitiu, hoje, a autenticidade de um chat. Em uma
coletiva, ele chamou de “descuido” o episódio no qual, em 7 de dezembro de 2015,
passa uma pista sobre o caso de Lula para que a equipe do MP investigue.
Nós também entramos em
contato com a assessoria do Ministério Público Federal do Paraná, que não
respondeu.
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