ANGICO DOS DIAS NOTÍCIAS.
EDIÇÃO DE Nº 3026
CAMPO ALEGRE DE LOURDES/ BA, BRASIL.
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terça-feira, 03/ 05/ 2025.
Supremo Tribunal Federal dá início, na próxima
segunda-feira (9), aos interrogatórios dos réus acusados de arquitetar uma
tentativa de golpe para manter Jair Bolsonaro no poder após a derrota nas urnas
em 2022.
O
ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal, vai comandar as oitivas na
1ª Turma do STF, presencialmente, entre os dias 9 e 13 de junho.
Mauro
Cid abre os trabalhos.
O primeiro a depor será o
tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência e delator
central no inquérito. Seu testemunho é esperado com atenção, uma vez que a
delação homologada por Moraes detalha os bastidores de reuniões, planos e ações
para desestabilizar o regime democrático.
A agenda das audiências prevê sessões
diárias das 14h às 20h, podendo se estender ao longo da semana caso necessário.
Apenas o general Braga Netto, preso preventivamente no Rio de Janeiro, será
ouvido por videoconferência.
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Os
réus: o “núcleo duro” do plano golpista
Na sequência de Cid, os
demais réus serão ouvidos em ordem alfabética. A lista revela o coração institucional
da trama investigada:
Alexandre Ramagem – ex-diretor da
Abin, ligado ao “gabinete do ódio”;
Almir Garnier –
ex-comandante da Marinha;
Anderson Torres –
ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF no 8 de janeiro;
Augusto Heleno – general
da reserva, ex-GSI e ideólogo da linha dura no governo Bolsonaro;
Jair Bolsonaro –
ex-presidente da República;
Paulo Sérgio Nogueira –
ex-ministro da Defesa;
Walter Braga Netto –
ex-ministro da Casa Civil, da Defesa e candidato a vice em 2022.
O interrogatório presencial ocorrerá
na própria sala de audiências do STF. Para além do aspecto processual, o ritual
marca um momento de inflexão no enfrentamento institucional ao golpismo no
Brasil.
Cronograma
das oitivas.
A
programação da semana de audiências no STF está definida da seguinte forma:
10/6 – das 9h às 20h
11/6 – das 8h às 10h
12/6 – das 9h às 13h
13/6 – das 9h às 20h
O Supremo já ouviu 52
testemunhas ao longo da fase anterior, incluindo aliados, militares e
assessores próximos do ex-presidente. As sessões foram marcadas por tensão,
como o episódio em que Moraes ameaçou prender Aldo Rebelo, ex-ministro ouvido
pela defesa.
Uma
trama com nome e rosto.
A peça acusatória aponta
Bolsonaro como líder de uma organização criminosa voltada a sabotar o processo
eleitoral e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O cerne da acusação
envolve a reunião no Palácio da Alvorada, onde se discutiu um plano de ruptura
institucional — confirmado por várias testemunhas em juízo.
A delação de Mauro Cid serviu como
catalisador para o avanço da denúncia. Entre os elementos revelados, estão
minutas de decreto de estado de sítio, tentativas de envolver as Forças Armadas
e articulações paralelas com setores da segurança e inteligência.
O que está em jogo
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Ao convocar o núcleo político-militar
do ex-presidente para depor sob as luzes do STF, Moraes coloca em cena o que
pode ser a etapa final da responsabilização judicial pelo 8 de janeiro e seus
antecedentes. O processo caminha para sentenças com potencial de redefinir os
rumos da extrema-direita no Brasil.
A partir das oitivas, o relator
poderá encerrar a instrução do processo e liberar a ação penal para julgamento
ainda em 2025 — ano em que Jair Bolsonaro tenta manter protagonismo político em
meio à inelegibilidade e à fragmentação da oposição.
Um divisor de águas
O Brasil assiste, mais uma
vez, ao confronto entre a liturgia democrática e a pulsão autoritária que
rondou o Planalto até o último minuto do mandato anterior. O STF, que já foi
desafiado por ações e retórica golpistas, agora conduz a fase mais simbólica do
julgamento dos responsáveis.
Se a democracia for, como dizem,
também um processo de memória, o depoimento de Bolsonaro e seus generais será
peça central na construção de um futuro em que ruptura institucional não seja
sequer cogitada.
Tic-tac: risco real de prisão acelera
queda de Bolsonaro
O relógio da Justiça avança sem
recuos. Jair Bolsonaro, já inelegível até 2030, agora enfrenta um risco
concreto de prisão — reconhecido até por aliados mais próximos, que ajustam
discursos e estratégias à nova realidade.
Nos bastidores, o entorno do
ex-presidente trabalha com um cenário que inclui incomunicabilidade e perda de
controle narrativo. A insistência pública na candidatura de 2026 contrasta com
a movimentação reservada de nomes que buscam manter o grupo coeso diante do que
consideram inevitável: o enfrentamento direto com o Supremo Tribunal Federal.
A Corte, por sua vez, tem acelerado os
ritos. A condenação de Carla Zambelli a 10 anos de prisão não passou
despercebida. Foi um recado claro de que a responsabilização por atentados à
democracia não se encerrará nos peões. Moraes já classificou as provas contra
Bolsonaro como “contundentes e irrefutáveis”.
Diante disso, o ex-presidente volta a
apostar na narrativa de perseguição: vídeos, ataques verbais, acenos à base
radical. É uma tentativa de transformar desgaste judicial em energia política,
de repetir o enredo do “perseguido” para tentar manter a militância mobilizada.
Mas o contexto mudou. O peso das
evidências, o avanço institucional e a fadiga pública com discursos
conspiratórios colocam Bolsonaro diante de uma encruzilhada inédita.