JORNAL, ONLINE, ANGICO DOS DIAS NOTÍCIAS EDIÇÃO DE Nº2007, (PUBLICAÇÕES NO BLOG). CAMPO ALEGRE DE LOURDES/BA, BRASIL. Quata - FEIRA 08, 10, 2019 WHATSAPP E GRUPO DO WHATSAPP: 74 99907 9863.
Ataque de glifosato
a sem-terra acampados em fazenda do banqueiro em 2018 tem impactos na saúde até
hoje. Para promotora de Marabá, trata-se de “prática criminosa” e “sistemática”.
Quando chegou ao km 55 da rodovia
BR-155, João de Deus Melo Oliveira, o “irmão João”, logo percebeu o cheiro
empesteando o ar: seus olhos lacrimejaram e, das narinas à garganta, um ardor
se espalhou. Era o final da tarde do dia 17 de março de 2018 e João de Deus e
outros agricultores retornavam ao acampamento Helenira Rezende, na zona rural
do município de Marabá, sudeste do Pará, depois de uma visita à cidade. “O
veneno estava tão forte que dentro do carro a gente sentiu”, conta o agricultor
de 56 anos.
Durante toda a tarde, uma pequena
aeronave fez sobrevoos na região. Ao redor dos barracos, as plantas murcharam;
a urtiga amarelou. E, no dia seguinte, João de Deus sentiu um “desânimo na
carne” que o acompanha até hoje.
Esses foram alguns dos primeiros
sintomas relatados pelas famílias do acampamento, cuja ocupação foi iniciada no
dia 1º de março de 2009 nas terras do complexo Cedro, área reivindicada pela
Agropecuária Santa Bárbara Xinguara S.A., empresa que pertence ao banqueiro
Daniel Dantas.
A pulverização gerou um inquérito
policial que concluiu não ter ocorrido irregularidade na aplicação do
agrotóxico. O caso também chegou ao Ministério Público do Meio Ambiente de
Marabá, que arquivou o procedimento por falta de provas.
Mas, para os agricultores, não há
dúvida de que se tratou de um “ataque químico”. Eles dizem que os sintomas observados
naquele dia e as sequelas relatadas até hoje são resultado dos agrotóxicos
pulverizados pela aeronave. As cerca de 150 famílias que se dizem vítimas do
ataque e a Agropecuária Santa Bárbara, responsável pela pulverização, estão em
lados opostos em uma disputa judicial que completou dez anos em março de 2019.
Segundo os acampados, que querem a terra para reforma agrária, parte da área
foi grilada.
Procurada diversas vezes por telefone
e por e-mail, a Agropecuária Santa Bárbara não retornou até a publicação desta
reportagem.
Esse não é o único relato do tipo.
Desde 2013, três acampamentos de agricultores sem-terra foram atacados com
pulverização aérea no sudeste do Pará, assim como a comunidade quilombola do
Tiningu, município de Santarém, no oeste do estado – o que sugere uma
estratégia deliberada dos fazendeiros da região na disputa pela terra.
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