O ex-presidente do Peru e líder aprista Alan García deixou uma “carta
política” antes de cometer suicídio, um gesto comparado com o do ex-presidente
Getúlio Vargas em 1954. A mensagem foi revelada por sua filha Luciana García
Nores durante o velório do ex-presidente, realizado nesta sexta-feira (19. 04.
2019).
“Por
isso, deixo a meus filhos a dignidade de minhas decisões; a meus companheiros,
um sinal de orgulho. E meu cadáver como uma mostra de meu desprezo contra meus
adversários porque já cumpri a missão que me impus”, diz em um trecho da carta.
García morreu nessa quarta-feira (17)
depois de atirar contra a própria cabeça ao receber ordem de prisão da polícia.
Chegou a ser levado para o hospital Casimiro Ulloa, mas não resistiu ao
ferimento. De acordo com a ministra da Saúde do Peru, Garcia sofreu três
paradas cardíacas.
Ele era alvo de um pedido de prisão
temporária da Lava Jato peruana –por 10 dias– por ter recebido contribuições
financeiras da Odebrecht. Garcia sempre repeliu com veemência que recebeu
qualquer ajuda da empreiteira brasileira.
O ex-chefe de Estado peruano criticou
as investigações da Justiça do país. Disse haver preocupação em “humilhar,
vexar, e não para encontrar verdades”.
“Por muitos anos me coloquei acima
dos insultos, me defendi, e a homenagem dos meus inimigos foi argumentar que
Alan García era suficientemente inteligente para que eles não conseguissem
provar as suas calúnias”, disse.
Garcia foi
eleito pela 1ª vez em 1985 e ficou no cargo até 1990. Assumiu o 2º mandato em
2006, quando conseguiu 52,62% dos votos. Foi presidente até 2011.
Leia a íntegra da carta:
“Cumpri a missão de conduzir o aprismo ao
poder em duas ocasiões e impulsionamos outra vez a sua força social. Creio que
essa foi a missão de minha existência, tendo raízes no sangue desse movimento.
Por isso e pelos contratempos do poder, nossos
adversários optaram pela estratégia de me criminalizar durante mais de 30 anos.
Jamais encontraram algo e os derrotei novamente, porque nunca encontrarão mais
do que suas especulações e frustrações.
Nestes tempos de boatos e ódios difundidos e
tidos como verdade pela maioria, vi como se utilizam os procedimentos para
humilhar, vexar, e não para encontrar verdades.
Por muitos anos me coloquei acima dos
insultos, me defendi, e a homenagem dos meus inimigos foi argumentar que Alan
García era suficientemente inteligente para que eles não conseguissem provar as
suas calúnias
Não houve, nem haverá contas, subornos ou
riqueza. A história vale mais que qualquer riqueza material. Nunca poderá haver
preço suficiente para quebrar meu orgulho de aprista e de peruano. Por isso
repeti: outros se vendem; eu, não.
Cumprido meu dever em minha política e nas
obras feitas em favor do povo, alcançadas as metas que outros países ou
governos não conseguiram, não devo aceitar vexames. Vi outros desfilarem
algemados guardando sua miserável existência, mas Alan García não tem por que
sofrer essas injustiças e circos.
Por isso, deixo a meus filhos a dignidade de
minhas decisões; a meus companheiros, um sinal de orgulho. E meu cadáver como
uma mostra de meu desprezo contra meus adversários porque já cumpri a missão
que me impus.
Que Deus, ao qual me dirijo com dignidade,
proteja os de bom coração e aos mais humildes.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário