JORNAL, ONLINE, ANGICO DOS DIAS NOTÍCIAS EDIÇÃO DE Nº 20138, (PUBLICAÇÕES NO BLOG). CAMPO ALEGRE
DE LOURDES/BA, BRASIL. Sábado. 27, 07, 2019
WHATSAPP E GRUPO DO WHATSAPP:74 99907 9863
C
|
Fonte: The IntercePT Brasil
Janaina ? |
Novos
trechos das mensagens secretas da Lava Jato mostram que o procurador
Deltan Dallagnol foi pago para dar uma palestra para uma empresa investigada
pela força-tarefa comandada por ele em Curitiba. A Neoway, companhia que pagou
para Dallagnol ir ao resort Costão do Santinho, em Florianópolis, em março de
2018, estava envolvida — desde 2016 — em uma delação que tem como personagem
central Cândido Vaccarezza, ex-líder de governos petistas na Câmara.
Lula. |
Além
da palestra, Deltan iniciou negociações para que a Lava Jato adquirisse
produtos da empresa que o havia contratado - a Neoway oferece softwares de
análise de dados. O procurador chegou a gravar um vídeo para a firma
enaltecendo o uso de produtos tecnológicos em investigações. Sobre este vídeo,
comentou com um assessor: "Fiquei um pouco preocupado porque ficou
parecendo que estou vendendo os produtos deles rsrsrs, mas não foi
proposital."
Ao descobrir a citação à empresa na
colaboração premiada do lobista Jorge Luz, Deltan escreveu a outros
procuradores: "Isso é um pepino pra mim.
Bolsonaro? |
procurador Deltan Dallagnol foi pago para
dar uma palestra para uma empresa investigada por corrupção pela Lava Jato,
operação que ele comanda em Curitiba. Dallagnol recebeu R$ 33 mil da Neoway,
uma companhia de tecnologia, quando ela já estava citada numa delação que tem
como personagem central Cândido Vaccarezza, ex-líder de governos petistas na
Câmara que foi preso em 2017, e em negociatas na BR Distribuidora, subsidiária
da Petrobras.
Eles estavam comemorando a prisão do Lula |
privatizada na terça-feira.
Não ficou só na palestra, realizada em março
de 2018. Deltan também aproximou a Neoway de outros procuradores com a intenção
de comprar produtos para uso da Lava Jato. Ele chegou a gravar um vídeo para a
empresa, enaltecendo o uso de produtos de tecnologia em investigações – a
Neoway vende softwares de análise de dados.
Recibo
Quando finalmente
percebeu que havia recebido dinheiro e feito propaganda grátis para uma empresa
investigada pela operação que comanda no Paraná, o procurador confessou a
colegas: “Isso é um pepino para mim”. Mas só escreveu à corregedoria do
Ministério Público Federal para prestar “informações sobre declaração de
suspeição por motivo de foro íntimo” quase um ano depois, quando o processo foi
desmembrado no STF e uma parte foi remetida à Lava Jato de Curitiba.
Os diálogos fazem
parte de um pacote de mensagens que o Intercept começou a revelar em 9 de junho na série
#VazaJato. Os arquivos reúnem chats, fotos, áudios e documentos de procuradores
da Lava Jato compartilhados em vários grupos e chats privados do aplicativo
Telegram. A declaração conjunta dos editores do The Intercept e do Intercept
Brasil (clique para ler o texto completo) explica
os critérios editoriais usados para publicar esses materiais.
‘PODEMOS IR PRA CIMA EM CWB?’
A PRIMEIRA CITAÇÃO à Neoway nos
chats secretos da Lava Jato aconteceu dois anos antes da palestra de Deltan, em
22 de março de 2016, em um grupo no Telegram chamado Acordo Jorge Luz. O grupo
fora criado para que os procuradores da Lava Jato discutissem os termos de
delação de Jorge Antonio da Silva Luz, um operador do MDB que tentava negociar
uma delação com a força-tarefa. Dallagnol participava ativamente do grupo.
Moro e a turma do PSDB e o ex-presidente Temer. |
Naquele dia, o procurador Paulo Galvão
mandou um documento que trazia a primeira versão do que viria a ser o
depoimento de Luz sobre diversas empresas, entre elas a Neoway. No documento, o
candidato a delator narrava: “Lembro-me ainda de um projeto de tecnologia para
Petrobras com a empresa Neoway que recorri ao Vandere Vaccarezzapara
me ajudarem agendando uma reunião na BR Distribuidora. Houve esta reunião e
recebi valores por esta apresentação e destas repassei parte para eles.
Posteriormente a tecnologia foi contratada sem minha interferência ou dos
deputados”.
Deltan já estava no grupo quando os
documentos foram enviados. Foi ele quem enviou os primeiros depoimentos
prestados por Luz, que haviam sido rejeitados anteriormente e ajudariam a
embasar uma nova rodada de negociações.
O coordenador da Lava Jato voltou a se
manifestar no chat em 6 de julho de 2016. “Caros, confirmam que negociações com
Luz foram encerradas? Se é isso mesmo, alguém disse para o Luz que as negociações
foram encerradas? Isso precisa ficar bem claro com os advs antes de retomarmos
ações. Podemos ir pra cima em CWB?”, disse.
Meses depois, em 24 de abril de 2017, no
mesmo grupo do Telegram, Galvão enviou um novo documento, que continha novas
delações da proposta de colaboração do lobista. O arquivo, intitulado “Novos
anexos e complementações.docx”, segundo os metadadosfoi escrito pelos
advogados de Luz. O documento trazia detalhes inéditos sobre negócios
envolvendo a Neoway em um esquema de corrupção.
Neles, Jorge Luz afirmava: “Paguei ao
Vaccarezza para arrumar o negócio. Não me recordo o ano, mas será fácil
verificar pela conferência de dados financeiros acessíveis a época que
checarmos nossa contabilidade, uma vez que tudo relativo a Neoway foi feito com
contratos executados no Brasil por empresas brasileiras, mas creio que seja por
volta do ano de 2011/2012”.
Em abril de 2019, o ministro do Supremo
Tribunal Federal Edson Fachin determinou que os trechos da delação de Luz
relativos à Neoway dessem origem a um processo específico na corte superior.
Ele está sob sigilo, mas estava anexado às conversas obtidas pelo Intercept e
pode ser lido aqui.
‘ISSO É UM PEPINO PRA MIM’
Aparentemente, Deltan e seus
colegas de Curitiba se esqueceram da investigação sobre a Neoway quando, em 5
de março de 2018, o chefe da força-tarefa foi contratado para fazer a palestra
para a empresa e comemorou enviando uma mensagem no grupo Incendiários ROJ, que
reunia procuradores da Lava Jato. O procurador demonstrou entusiasmo e
mencionou o dono da firma, Jaime de Paula – que também é citado pelo delator
Jorge Luz.
“Olhem que legal. Sexta vou dar
palestra para a Neoway, do Jaime de Paula. Vejam a história dele: https://endeavor.org.br/empreendedores-endeavor/jaime-de-paula/.
A neoway é empresa de soluções de big data que atende 500 grandes empresas,
incluindo grandes bancos etc”.
O procurador da República Júlio
Noronha, também integrante da Lava Jato, então sugeriu que Deltan buscasse
marcar uma reunião com o dono da Neoway para tratar de produtos para um projeto
da Procuradoria chamado de Laboratório de Investigação Anticorrupção, o LInA.
“Top Delta!!! De repente, se conseguir um espaço para conversarmos com ele e
tentarmos algo para trazer uma solução para agregar ao LInA, seria massa tb!”,
disse Noronha.
Deltan concordou e afirmou que
iria procurar agradar o empresário. “Exatamente. Isso em que estava no meu
plano. Vou até citar ele na palestra pra ver se sensibilizo kkkk”.
Deltan
descobriu que a Neoway era investigada em julho de 2018. Mas só avisou a
corregedoria em junho de 2019.
Quatro dias depois, Deltan fez
a palestra para a Neoway num evento chamado Data Driven Business, realizado no
Costão do Santinho, um badalado – e caro – resort em Florianópolis. A
estratégia traçada por ele funcionou: no fim daquela mesma noite, ele procurou
os colegas noutro grupo, chamado LInA – Coordenação, para marcar a reunião com
os representantes da empresa. “Caros podem receber a Neoway de bigdata na
segunda para apresentar os produtos???? Ou quarta?”.
O procurador afirmou que a
companhia cogitava fornecer produtos gratuitamente. “Como fiz um contato bom
aqui valeria estar junto. Eles estão considerando fazer de graça. O MP-MG está
contratando com inexigibilidade”.
Houve impasse quanto à data da
reunião, e Deltan disse que eles deveriam ser rápidos para não perder a
oportunidade. “Minha única preocupação é perdermos o timing da boa vontade
deles rs. Mas entendo. Marcamos dia 20 então?” Noronha concordou e emendou:
“Kkkk a gente ganha eles de novo qdo encontrarmos!”
Os diálogos e documentos
analisados pelo Intercept e pela Folha de S.Paulo indicam que a reunião foi
realizada, e a ideia de integrar a Neoway ao projeto de sistema de dados da
Procuradoria ganhou força internamente.
Foi só quatro meses após ter
vendido sua palestra para a Neoway – e já em meio às negociações para a aquisição
de produtos da empresa – que Deltan abriu o Telegram e disse aos procuradores
que havia descoberto a citação à empresa na colaboração premiada do lobista
Jorge Luz apenas naquele momento. “Isso é um pepino pra mim”, afirmou, então.
Era 21 de julho de 2018.
Apesar disso, foi só em 4 de
junho de 2019 – quase 11 meses depois – que Dallagnol enviou um ofício ao
corregedor do Ministério Público Federal, Oswaldo José Barbosa Silva. Nele,
confessava que em 3 de março de 2018 (ou seja, havia um ano e três meses)
“participei de congresso anual da empresa Neoway, que oferece solucções de
bancos de dados e softwares, inclusive para fins de compliance e investigações internas,
realizando palestra remunerada por valor de mercado, sobre combate à corrupção
e ética nos negócios”.
“Na data da palestra, a empresa
não era investigada no âmbito desta força-tarefa da Lava Jato e eu desconhecia
que a empresa seria mencionada no futuro em colaboração premiada a qual seria
firmada pela procuradoria-geral da República, em Brasília. No sistema que
contém informações sobre delações da Lava Jato e em sua base de dados, não
constava qualquer menção à existência de delação ou investigação sobre a
empresa que pudesse indicar a existência de potencial conflito de interesses”,
prosseguiu Deltan.
Mas a Neoway já havia aparecido
em documentos oficiais em duas ocasiões. A primeira vez foi no rascunho da
proposta de delação de Luz, cujo documento foi criado em março de 2016, de
acordo com os metadados. A segunda noutro documento, criado em abril de 2017,
que continha novos depoimentos do lobista. Ambos foram enviados ao grupo de
Telegram do qual Dallagnol fazia parte. Além disso, convenientemente o
procurador deixou de mencionar ao corregedor que nos grupos de Telegram, que
não eram uma ferramenta oficial do MPF, ela apareceu pela primeira vez em 22 de
março de 2016 – ou seja, quase dois anos antes da palestra. Há ainda outro
intervalo de tempo que vale a pena notarmos: Deltan enviou sua confissão
voluntária à corregedoria apenas cinco dias antes do Intercept começar a
publicar as reportagens sobre os chats da Lava Jato no Telegram, em 9 de junho
passado. Na declaração editorial publicada
naquele mesmo dia, dissemos que trabalhávamos com o material havia diversas
semanas.
21 de julho de 2018 – Chat privado
Deltan Dallagnol – 11:04:20 – Qto isso é ruim? Legalmente não vejo qualquer problema, mas já
estou sofrendo por antecipação com as críticas.
Dallagnol – 11:04:20 – Dando uma passada de olhos nos anexos do Luz, vejam o que achei
Dallagnol – 11:04:20 – (pdf ou link perdido)
Dallagnol – 11:04:20 – Empresa de TI que veio apresentar produtos de TI para LJ
Dallagnol – 11:04:20 – Isso é um pepino pra mim. É uma brecha que pode ser usada para me
atacar (e a LJ), porque dei palestra remunerada para a Neoway, que vende
tecnologia para compliance e due diligence, jamais imaginando que poderia
aparecer ou estaria em alguma delação sendo negociada. Quero conversar com Vcs
na segunda para ver o que fazer, acho que é o caso de me declarar suspeito e
não sei até que ponto isso afeta o trabalho de todos (prov tem que ser
redistribuído para colega da PRPR e dai designar todos menos eu para assinar).
Pensando rapidamente o que provavelmente poderia fazer
ou informar: -Não tinha conhecimento, não participei da negociação -assim que tomei, me declarei suspeito e me afastei -a palestra remunerada é autorizada pelo CNMP e se deu em contexto de mercado (lançamento de produto de compliance) e por valor de mercado -já recusei palestra por conflito de interesses, mas nesse caso não foi identificado -como voltará à baila a questão das palestras, a maior parte das palestras é gratuita e grande parte do valor é doado
ou informar: -Não tinha conhecimento, não participei da negociação -assim que tomei, me declarei suspeito e me afastei -a palestra remunerada é autorizada pelo CNMP e se deu em contexto de mercado (lançamento de produto de compliance) e por valor de mercado -já recusei palestra por conflito de interesses, mas nesse caso não foi identificado -como voltará à baila a questão das palestras, a maior parte das palestras é gratuita e grande parte do valor é doado
‘DELTA NAO QUER. . . PROBLEMA DA
NEOWAY’
Em agosto de 2018, os procuradores iniciaram a conversa
sobre quem iria trabalhar nos casos relativos a Jorge Luz e a Neoway voltou à
tona quando o procurador Paulo Galvão indagou aos colegas: “vcs nao preferem
ficar de fora do luz [processos de Jorge Luz]?”
Laura Tessler, então, sugeriu que todos os procuradores da
equipe entrassem no caso, mas Galvão lembrou do episódio da palestra de Deltan.
“Delta nao quer… problema da neoway, laurinha”, disse Galvão à colega.
Em seguida, Deltan mostrou estar incomodado com a situação.
“Quero distância rs Acho que Robito e Júlio tb não queriam”, postou o
procurador. Por fim, a procuradora Jerusa Viecili indicou os nomes de apenas
sete procuradores para trabalhar nos processos de Luz e arrematou: “Melhor
deixar fora quem teve contato com a neoway”.
O vídeo gravado por Deltan à pedido da Neoway no evento da
empresa em março de 2018 – no qual o procurador discorreu sobre a importância
do uso de sistemas de dados em investigações – também gerou debate nos chats.
“A tecnologia é essencial para nós podermos avançar contra
a corrupção em investigações como a Lava Jato, por exemplo. Hoje, nós lidamos
com uma imensa massa de dados, uma imensa massa de dados em investigações, uma
imensa massa de dados que podem ser usados para avaliar potenciais fornecedores
ou clientes, e fazer due diligence. Isso nos
faz precisar, se nós queremos investigar melhor, tanto no âmbito público como
no privado, a usar sistemas de big data”, disse Deltan no vídeo.
Na semana seguinte ao evento, ele recebeu a gravação feita
pela empresa e pediu que um assessor de imprensa da Procuradoria avaliasse sua
fala. A ele, o procurador se disse preocupado em parecer um garoto-propaganda
da Neoway, apesar de não ter citado a empresa expressamente no vídeo.
“Fiquei um pouco preocupado porque ficou parecendo que
estou vendendo os produtos deles rsrsrs, mas não foi proposital. Dei respostas
sinceras às perguntas, mas encaixa perfeitamente com o que eles vendem, que é
sistemas de big data rs”, disse Deltan. O assessor da Procuradoria não fez
críticas ao conteúdo do vídeo, publicado
na página da Neoway no Youtube.
OUTRO LADO
Segundo os
artigos 104 e 258 do Código de Processo Penal e o artigo 145 do Código de
Processo Civil, procuradores, assim como os juízes, devem se declarar suspeitos
e se afastar de processos em que sua atuação pode ser questionada – como ter
tido contrato de trabalho ou relação de parentesco com alguma das partes. A
declaração de suspeição deve ser registrada no processo.
Como o inquérito
5028472-59.2019.4.04.7000, que envolve o caso da Neoway em Curitiba, é
sigiloso, não foi possível apurar se Deltan e outros procuradores de fato registraram
suas suspeições no caso.
Deltan Dallagnol
pediu um prazo adicional de 24 horas para responder aos fatos apresentados
nesta reportagem – ela estava programada para ser publicada ontem, quinta-feira
–, se comprometendo a falar com os repórteres. Nós aceitamos o pedido dele. Em
seguida, ele mudou de ideia e se recusou a conversar com os profissionais do
Intercept, aceitando apenas responder às perguntas da Folha. A declaração a
seguir, assim, foi feita ao repórter Flávio Ferreira.
“Não reconheço a autenticidade
e a integridade dessas mensagens, mas o que posso afirmar, e é fato, é que eu
participava de centenas de grupos de mensagens, assim como estou incluído em
mais [de] mil processos da Lava Jato. Esse fato não me faz conhecer o teor de
cada um desses processos. Se, por acaso, por hipótese, eu tivesse feito parte
[do grupo no qual a Neoway apareceu em documentos], certamente não tomei
conhecimento. Se soubesse não teria feito, e, sabendo, me afastei”, disse.
Nós também
procuramos a Neoway. Em nota, a empresa confirmou que presta serviços para a BR
Distribuidora. Os contratos foram firmados em janeiro de 2012, novembro de
2014, março de 2017 e março de 2019 – este último ainda está vigente, com
duração até março de 2020, no valor de R$ 3.385.140, e foi fechado com
inexigibilidade de licitação.
Ainda em nota, a
Neoway diz que a contratação de Dallagnol para a palestra realizada em março de
2018 “foi remunerada em valores compatíveis com o mercado para atividades dessa
natureza, com total observância às leis”. A empresa também informa que não
prestou serviços para o projeto LInA, do MPF, e para o MP-MG, e “desconhece a
menção a seu nome em depoimentos de terceiros”.
A defesa do
ex-deputado Cândido Vaccarezza informou que Jorge Luz mente a seu respeito, e
que ele “nunca sugeriu, pediu, aceitou, recebeu ou autorizou quem quer que seja
a receber em seu nome vantagem, pagamento, benefício ou dinheiro de forma
ilícita”. Vander Loubet disse que “desconhece os termos” em que foi citado e
que “suas relações sempre foram institucionais”.
A defesa de Jorge e Bruno Luz
“assevera que seus clientes estão à disposição das autoridades públicas para
prestar todos os esclarecimentos, no momento oportuno e nos autos dos eventuais
processos”.
Dependemos do apoio de leitores como
você para continuar fazendo jornalismo independente e investigativo. Junte-se a nós
OUTRO LADO
Segundo os
artigos 104 e 258 do Código de Processo Penal e o artigo 145 do Código de
Processo Civil, procuradores, assim como os juízes, devem se declarar suspeitos
e se afastar de processos em que sua atuação pode ser questionada – como ter
tido contrato de trabalho ou relação de parentesco com alguma das partes. A
declaração de suspeição deve ser registrada no processo.
Como o inquérito
5028472-59.2019.4.04.7000, que envolve o caso da Neoway em Curitiba, é
sigiloso, não foi possível apurar se Deltan e outros procuradores de fato
registraram suas suspeições no caso.
Deltan Dallagnol
pediu um prazo adicional de 24 horas para responder aos fatos apresentados
nesta reportagem – ela estava programada para ser publicada ontem, quinta-feira
–, se comprometendo a falar com os repórteres. Nós aceitamos o pedido dele. Em
seguida, ele mudou de ideia e se recusou a conversar com os profissionais do
Intercept, aceitando apenas responder às perguntas da Folha. A declaração a
seguir, assim, foi feita ao repórter Flávio Ferreira.
“Não reconheço a
autenticidade e a integridade dessas mensagens, mas o que posso afirmar, e é
fato, é que eu participava de centenas de grupos de mensagens, assim como estou
incluído em mais [de] mil processos da Lava Jato. Esse fato não me faz conhecer
o teor de cada um desses processos. Se, por acaso, por hipótese, eu tivesse
feito parte [do grupo no qual a Neoway apareceu em documentos], certamente não
tomei conhecimento. Se soubesse não teria feito, e, sabendo, me afastei”,
disse.
Nós também
procuramos a Neoway. Em nota, a empresa confirmou que presta serviços para a BR
Distribuidora. Os contratos foram firmados em janeiro de 2012, novembro de
2014, março de 2017 e março de 2019 – este último ainda está vigente, com
duração até março de 2020, no valor de R$ 3.385.140, e foi fechado com inexigibilidade
de licitação.
Ainda em nota, a
Neoway diz que a contratação de Dallagnol para a palestra realizada em março de
2018 “foi remunerada em valores compatíveis com o mercado para atividades dessa
natureza, com total observância às leis”. A empresa também informa que não
prestou serviços para o projeto LInA, do MPF, e para o MP-MG, e “desconhece a
menção a seu nome em depoimentos de terceiros”.
A defesa do
ex-deputado Cândido Vaccarezza informou que Jorge Luz mente a seu respeito, e
que ele “nunca sugeriu, pediu, aceitou, recebeu ou autorizou quem quer que seja
a receber em seu nome vantagem, pagamento, benefício ou dinheiro de forma
ilícita”. Vander Loubet disse que “desconhece os termos” em que foi citado e
que “suas relações sempre foram institucionais”.
A defesa de Jorge e Bruno Luz
“assevera que seus clientes estão à disposição das autoridades públicas para
prestar todos os esclarecimentos, no momento oportuno e nos autos dos eventuais
processos”.
Dependemos do apoio de leitores como
você para continuar fazendo jornalismo independente e investigativo. Junte-se a nós
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